sábado, novembro 29, 2025

O Presidente Negro



"Em regra, o homem é um bípede incompreensivo. Alimenta-se de ideias feitas e desnorteia diante do novo." [p. 27]

"- O mundo, meu caro, é um imenso livro de maravilhas. A parte que o homem já leu chama-se passado; o presente é a parte em que está aberto o livro; o futuro são as páginas ainda por cortar." [p. 31]

"Acho que a melhor maneira de figurar numa roda onde se falam coisas acima da nossa compreensão é sorrir para o interlocutor que nos dirige a palavra. Se o riso não engana a ele, engana-nos a nós e livra-nos de uma réplica verbal, que sai asneira infalivelmente." [p. 32]

"O silêncio é sábio, é uma das mais altas formas da sabedoria. Foi silenciando que Jesus deu ao "Que é a verdade?" de Pilatos a única resposta acertada..." [p. 33]

"O habito não nos deixa ver os defeitos..." [p. 121]

"- Joga xadrez, senhor Ayrton?

Eu só jogava no bicho, mas menti, corando de leve:

- Assim, assim.

- Pois nesse caso deve saber que nas partidas bem jogadas um humilde movimento de peão tem tanta importância para o xeque-mate  como um espetacular movimento de rainha." [p. 184] 

México


"... não se disse que a pérola é produto de uma doença da ostra?" [p. 13]

"E nós sabemos que a vida não merece bocejos. É rica demais, séria demais, interesssante demais e principalmente curta demais para que fiquemos diante dela nessa atitude de fastio." [p. 13]

"E aqui nos vamos por entre relíquias, já com essa pressa cretina do turista profissional que não visita os lugares porque deseja realmente vê-los, mas sim porque quer ter o direito de mais tarde dizer aos outros e a si mesmo que os viu" [p. 46]

"Uma das coisas que mais me tem encantado nesta viagem ao México é verificar a sobrevivência do artesão. Nessa nossa era tecnológica em que pouco a pouco estamos transferindo para as máquinas não só a tarefa de fazer as coisas como também a de pensar, não deixa de ser agradável encontrar gente que ainda usa com gosto e imaginação os mais antigos instrumentos de trabalho de que se tem notícia - as mãos." [p. 86]

"É bem certo que um homem quando viaja carrega aonde quer que vá os seus poetas, pintores e músicos. Aquele chão é de Gauguin. Os camponeses de Van Gogh. O céu de cristal nasceu duma sonatina de Mozart. Mas esse chofer gorducho que conta anedotas ao sargento seco e silencioso do primeiro banco, esse, senhores, é meu, modestia à parte." [p. 116]

""Nossa morte ilumina nossa vida" - disse Otávio Paz. Não é apenas uma frase: é uma verdade. E o termo ilumina está bem empregado." [p. 271]

sábado, outubro 11, 2025

Essa Gente

 


"Dizem que, na hora da morte, a vida repassa do início ao fim no cinema da nossa cabeça. Pois é ao que assisto, não como num filme, mas nas rasantes que o avião dá sobre o Rio de Janeiro. Ali estão a maternidade onde nasci, a casa dos meus pais, a igreja onde fui batizado, o colégio onde xinguei o padre, o campo de terra onde fiz um gol de calcanhar, a praia onde quase me afoguei, a rua onde apanhei na cara, os cinemas onde namorei, o prédio do curso pré-vestibular que larguei no meio, os endereços dos casamentos que larguei no meio, e perto do cemitério o avião toma novo impulso, levanta o nariz, acelera e se intromete nas nuvens." [p. 15]

"Existe mesmo um mistério entre a compaixão e a perversidade." [p. 18]

"Há manhãs em que desço as persianas para não ver a cidade, tal como outrora recusava encarar a minha mãe doente. Sei que as vezes o mar acorda manchado de preto ou de um marrom espumoso, umas sombras que se alastram do pé da montanha até a praia. Sei dos meninos da favela que mergulham e se esbaldam no esgoto do canal que liga o mar à lagoa. Sei que na lagoa os peixes morrem asfixiados e seus miasmas penetram nos clubes exclusivos, nos palácios suspensos e nas narinas do prefeito. Não preciso ver para saber que pessoas se jogam de viadutos, que urubus estão à espreita, que no morro a polícia atira para matar. Apesar de de tudo, assim como venero a mulher incauta que me deu a luz, estarei condenado a amar e a cantar a cidade onde nasci." [p. 48]

"Percebo que nos romances nunca me preocupei em explicitar a minha cor. É curioso que, num país onde quase todo mundo é preto ou mestiço, autor nenhum escreveria "hoje encontrei um branco...", ou "um branco me cumprimentou...", ou "o sargento Agenor é um branco bonito de presumíveis quarenta anos, se bem que os da sua raça..."." [p. 61]

"Deve estar faminto, pois agora abocanha o jornal no chão do banheiro e começa a mastigara notícias: soldado dispara oitenta tiros contra carro de família e matam músico negro. É realmente impossível dar vazão às minhas fantasias na presença daquele cachorro que late, rosna, fareja sob a porta." [p.89]

"... fico sabendo que zoam do menino por ser filho de comunistas. Mesmo a namoradinha, que pegou várias vezes em sua piroca sem achar ruim, o trocou por um colega de turma ao saber que o meu filho nunca foi à Disney. Digo que isso é um absurdo, comunismo nem existe mais, fora que já lhe prometi umas viagens às praias da Califórnia. Esse fedelhos repetem qualquer merda que ouvem em casa, mas se meu filho quiser, posso comparecer a próxima reunião de pais e professores com uma camisa da Seleção Brasileira. O menino, no entanto, tenciona se transferir para uma escola pública da favela, onde ninguém o recriminará por ter genes de comunista." [p. 164]


segunda-feira, junho 09, 2025

Bambino a Roma

 


"Não é só Kazuki, mas todos ali aparentavam estar em Roma de passagem, nenhum se dava ao trabalho de aprender italiano. Eu gostaria de conhecer o destino do Sam, do Jim, do Roy, do Teddy, do Dan, do Archie, teriam todos voltados para a América? Teriam feito a Guerra do Vietnã? Quem morreu no Vietnã? Quem virou hippie? Quem tomou heroína? Quem morreu de Aids? Fizeram fortuna no Vale do Silício? Em quem votaram ultimamente? Mas disso nunca vou saber..." [p. 41/42]

"... ninguém pode ser inocente por completo o tempo inteiro. Eu, por exemplo, apesar da formação cristã, sou de má índole, vivo tendo ideias perversas, não raro desejo mal ao próximo." [p. 54]

"Muito se tem escrito a respeito de artistas geniais que em sua vida pessoal se revelaram uns crápulas. Eu também sei distinguir o criador da criatura e guardo uma admiração intata por obras de autores com quem jamais me sentaria." [p. 58]

"Minha irmã mais velha morreu sem saber que eu enfiava a cara entre suas saias e vestidos, assim que ela saia para as aulas de arte. Ela escondia o violão atrás dos cabides no fundo do guarda-roupa, e só bem mais tarde eu compreenderia que todo músico tem um ciúme do seu instrumento. Ciúme ainda mais justificado quando se trata de um violão, instrumento que você põe no colo, apoia na coxa, abraça contra o peito e tange com a ponta dos dedos." [p. 79]

"... meu papel de parede era a imitação de um muro de tijolos. Devido à umidade, o papel estava soltando nas emendas, deixando entrever por baixo uma parede de tijolos verdadeiros. Meu sonhado livro de memórias poderia ser bem isso, um papel de parede reproduzindo o que ele ao mesmo tempo esconde." [p. 81]

"Achei melhor largar mão da ideia de um diário e deixar que o esquecimento fizesse o seu trabalho. No futuro a imaginação cobriria as lacunas da memória e os acontecimentos reais se revezariam com o que poderia ter acontecido." [p. 84]

sexta-feira, maio 02, 2025

Memórias da Casa dos Mortos

 


"A gente vive em qualquer lugar, a vida está cá dentro e não lá fora [...] ser homem entre os homens e permanecê-lo em quaisquer desgraças... sem ficar triste e abatido - eis em que consiste a vida e seu objetivo." [p. 12]

"É fácil apanhar um delinquente e castigá-lo com o maior rigor possível; agora reeducá-lo após o delito que cometeu, ou mudar a condição sociocultural dele de modo a evitar esse delito antes que seja cometido, é uma tarefa complicadíssima." [p. 14]

"Muitas vezes um homem sofre por vários anos, conforma-se, atura os mais severos castigos e, de repente, se enfurece por causa de uma ninharia, de uma banalidade, de coisa nenhuma." [p. 32]

"O fruto proibido possui o dobro de doçura." [p. 35]

"Pensei um dia que, se quisesse esmagar por completo, aniquilar um homem, puni-lo com a punição mais pavorosa, de maneira que até o assassino mais terrível ficasse tremendo de medo perante essa punição, antes mesmo que ela fosse aplicada, bastaria somente tornarem o seu trabalho forçado totalmente inútil e plenamente absurdo." [p. 39]

"Estou enganado, quem sabe, mas acho que se pode conhecer a pessoa pelo seu riso: se, desde o primeiro encontro, a risada de alguém totalmente desconhecido for de seu agrado não se acanhem em dizer que é uma pessoa boa." [p. 58] 

"... as provações morais são mais dolorosas que quaisquer sofrimentos físicos." [p. 86]

"A tirania é um hábito; a medida que se desenvolve, transforma-se numa doença. Faço questão de afirmar que o melhor dos homens pode ficar obtuso e pervertido, descendo, por força de hábito, até o nível de um bicho. O sangue e o poder embriagam: o homem se embrutece e se deprava; sua mente e seu coração ganham acesso às coisas mais anormais e acabam por deliciar-se com elas. O homem e o cidadão perecem para sempre na alma do tirano e o retorno à dignidade humana, à contrição, à ressurreição espiritual torna-se quase impossível para ele." [p. 226] 


sábado, abril 19, 2025

CONTOS DE TCHÉKHOV


"Não dormirmos à noite significa termos a cada instante a consciência da nossa anormalidade, por isso espero com impaciência pela manhã e pelo resto do dia, em que tenho do direito de não dormir." [p. 10]

"... tem uma veneração escrava pelas autoridades e não sente necessidade de pensar com independência." [p. 17]

"- Por que não se trata? Como é possível? Quem a si mesmo se protege, Deus protege." [p. 51]

"A indiferença é a paralisia da alma, a morte prematura." [p. 70]

"As pessoas que lidam com o sofrimento alheio por força de circunstâncias  oficiais, de serviço, como juízes, polícias e médicos, por exemplo, com o decorrer do tempo e por força do hábito ficam a tal ponto empedernidas que, nem que queiram, não podem ter outra atitude com seus clientes a não se a formal; neste aspecto não são diferentes do mujique que mata os carneiros e as vitelas na traseira da casa e nem repara o sangue." [p. 93]

"Com o correr do tempo, tal como o esterco se transforma em húmus negro, também eles se transformam nalguma coisa razoável. Não existe na terra coisa boa, que, na sua origem primordial, não tenha sido porcaria." [p. 100]

"A capacidade de pensar com liberdade e profundidade, na busca de conscientizar a vida, e o desprezo total pela estúpida vaidade do mundo são dois bens supremos; nunco o ser humano encontrou outros maiores." [p. 115-116]

"Não bebera ainda as lágrimas da taça da vida..." [p. 231]

sexta-feira, abril 11, 2025

A guerra não tem rosto de mulher


"Somos capazes de sofrer e contar o sofrimento. O sofrimento justifica nossa vida dura e sem graça. Para nós, a dor é uma arte." [p. 14]

"... e você acha que a verdade é aquilo que está na vida. O que está nas ruas. Sob os pés. Para você, ela é tão baixa. Tão terrena. Não, a verdade é aquilo com que sonhamos. É como queremos ser!" [p. 34]

"As meninas de 1941... A primeira coisa que quero perguntar: por que são assim? Por que são tantas? Como ousaram pegar em armas em igualdade com os homens? Atirar, colocar minas, explodir, bombardear - matar?" [p. 62]

"De madrugada. Montávamos guarda e captávamos cada ruído. Como linces. Estávamos atentos a cada sussurro... É como se diz: na guerra você é metade humano, metade animal... É assim. De outra forma não se sobrevive. Se você for humano, não sai vivo. Queima a cachola. Na guerra é preciso lembrar de algo a respeito de si. Algo... Lembrar de algo dos tempos em que o ser humano ainda não era completamente humano..." [p. 89]

"Me tornei alguém melhor na guerra... Sem dúvida! Me tornei uma pessoa melhor lá porque havia muito sofrimento. Vi muito sofrimento, e eu mesmo sofri muito. Lá, logo se descarta o que é secundário na vida, o que á supérfluo. Você entende isso..." [p. 141]

"Vou contar o que ficou na memória dos últimos dias de guerra. Estávamos viajando e, de repente, escutamos uma música que vinha não se sabe de onde. Um violino... Para mim, a guerra acabou nesse dia... Era um milagre: de repente uma música. Outros sons... Eu sentia que estava acordando... Todos nós achávamos que, depois da guerra, depois daquele mar de lágrimas, a vida serria maravilhosa. Linda. Depois da Vitória... Depois daquele dia... Achávamos que todas as pessoas seriam boas, que iriam simplesmente amar umas às outras. Todos se tornariam irmãos e irmãs. Como esperávamos por esse dia..." [p. 209]

sábado, março 29, 2025

Albert Camus, uma vida


"Uma personalidade literária tem inimigos verdadeiros durante a vida e quase o mesmo número de falsos amigos depois da morte." [p. 13] 

"A ideia de que todo escritor escreve forçosamente sobre si  mesmo e se descreve em seus livros é uma das puerilidades que o romantismo nos legou", afirmava Camus." [p. 14]

"Na casa dos Sintés-Camus, ninguém frequenta a igreja. Não se pensa no inferno, nem no paraíso, nem no purgatório. Referindo-se a alguém que morreu, a avó diz: "Bem, [...] ele não vai mais peidar."" [p. 36]

"Sofrer não é nada. O que conta é saber sofrer." Camus, estoico." [p. 66]

“Quando jovem, eu pedia aos seres mais do que podiam dar: uma amizade contínua, uma emoção permanente." Camus ao 22 anos." [p. 85] 

"Depois do sucesso dos nazistas e fascistas na Alemanha e na Itália, perplexidade. Camus tenta compreender esses êxitos: "O fascismo tem vários meios à sua disposição para manter o povo na situação em que se  encontra. Em primeiro lugar a força de certas palavras como 'PÁTRIA', 'GLÓRIA', 'HONRA', para eles sinônimo de cofre-forte." [p. 101]

"O trio (Buorgeois, Camus e Fourviéres) instala-se no terraço de um café na praça des Terreaux. Um ex aluno de Bourgeois, membro das Juventudes Patriotas de extrema direita e, para agravar o caso, filho de um delegado de polícia, cumprimenta seu professor. Camus reage violentamente. Não se pode falar com essa gente." [p. 118]

"O que é a felicidade senão um acordo entre um ser e a existência que ele leva?" [p. 193] 

"Em Tiaret, alguns professores me disseram que estavam de 'saco cheio'. "E o que vocês fazem quando estão de saco cheio?", "Enchemos a cara". [p. 197]

"O maravilhoso dessa empreitada infernal é que cada chefe manda abençoar suas bandeiras e invoca Deus solenemente antes de ir exterminar seu próximo." Camus, durante a segunda guerra mundial." [p. 216]

"Viver é o contraio de amar. [...] Amar um ser é aceitar envelhecer com ele." [p. 255]

"Há momentos em que só me sinto bem com os animais, sobretudo os cães." [p. 281]

"O que importa não é a vida eterna, é a eterna vivacidade." [p. 312]

"Em 08 de agosto de 1945, Camus é o único editorialista francês a expressar seu horror após a explosão de uma bomba atômica americana sobre Hiroxima." [p. 394]

"De Bonaparte a Pétain, todo militar parece potencialmente um aprendiz de ditador." [p 401]

"Camus tenta compreender a fé. Para Sartre, essa grande superstição não merece atenção." [p. 409]

"Um provérbio árabe diz: "Se o que você tem a dizer não é tão belo quanto o silêncio, não diga."" [p. 500]

"Camus não está sozinho no mundo. Seu ensaio é objeto de felicitações avulsas interessantes. Hannah Arendt lhe escreve: "Li 'O Homem Revoltado' de que gosto muito." O escritor polonês Witold Gombrowicz, sentindo-se enterrado vivo na Argentina depois de ler O Homem Revoltado pede a Milosz, que mande seus livors para Camus, maneira de dizer: "Creio que estamos na mesma batalha."" [p. 572]

"Sartre e Camus não são nem comunistas nem 'atlânticos'; ambos reconhecem a existência de iniquidades nos dois campos. Camus quer denunciar umas e outras, Sartre apenas umas, do lado ocidental, sem negar a realidade das outras." [p. 583]

"A tarefa dos homens de cultura e de fé não é desertar das lutas históricas nem servir ao que elas tem de cruel e desumano. É manter-se nelas, ajudar nelas o homem contra o que o oprime, favorecer sua liberdade contra as fatalidades que o cercam." [p. 640]

quinta-feira, março 27, 2025

Grande sertão: veredas

 


"Dor do corpo e dor da ideia marcam forte, tão forte como todo o amor e raiva de ódio." [p. 23]

"Diz-se que tem saudade de ideia e saudade de coração..." [p. 26]

"Moço: toda saudade é uma espécie de velhice." [p. 36]

"Toda mãe vive de boa, mas cada uma cumpre a sua paga prenda singular, que é a dela e dela, diversa bondade. E eu nunca tinha pensado nessa ordem. Para mim, minha mãe era minha mãe, essas coisas. Agora, eu achava. A bondade especial de minha mãe tinha sido a de amor constando com a justiça, que eu menino precisava. E a de, mesmo no punir meus desmaseios, querer-bem às minhas alegrias." [p. 36-37]

"Minha competência foi comprada a todo custos, caminhou com os pés da idade. E, digo ao senhor, aquilo mesmo que a gente receia de fazer quando Deus manda, depois quando o diabo pede se perfaz." [p. 40]

"Em hora de desânimo, você lembra de sua mãe." [p. 40]

"Deus come escondido, e o diabo sai por toda a parte lambendo o o prato." [p. 47]

"... a colheita é comum, mas o capinar é sozinho. [p. 48]

"Como não ter Deus?! Com Deus existindo, tudo dá esperança: sempre um milagre é possível, o mundo se resolve." [p. 49-50]

"Sempre gosto de tornar a encontrar em paz qualquer velha conhecênça - consoante a pessoa se ri, a gente se acha de voltar aos passados, mas parece que escolhidas só as peripécias avaliáveis, as que agradáveis foram." [p. 57]

"Tem horas antigas que ficaram muito mais perto da gente do que outras de recente data." [p. 76-77]

"Passarinho cai de voar, mas bate suas asinhas no chão" [p. 117]

"Ser ruim, sempre, às vezes é custoso, carece de perversos exercícios de experiência." [p. 127]

"Contar é muito, muito dificultoso. Não pelos anos que já se passaram. Mas pela astúcia que têm certas coisas passadas - de fazer balancê, de se remexerem dos lugares." [p. 136]

"Cansaço faz tristeza, em quem dela carece." [p. 159]

"Não confesso culpa nem retrauta, porque minha regra é: tudo que fiz, valeu por bem feito. É meu consueto." [p. 203]

"O bom da vida é para o cavalo, que vê capim e come." [p. 209]

"O correr da vida embrulha tudo, a vida é assim: esquenta e esfria, afrouxa e daí aperta, sossega e depois densenquieta. O que ela quer da gente é coragem." [p. 230]

"... obedecer é mais fácil do que entender." [p. 237]

"Ser forte é parar quieto; pemanecer." [p. 303]

"Meus livros são feitos para cavalos, que vivem comendo a vida toda, desbragadamente. São livros para bois. Primeiro o boi engole, depois regurgita para mastigar devagar e só engole de vez quando tudo está ruminado. Essa comida vai servir, depois de tudo, para fecundar a terra." [João Guimarães Rosa]


quarta-feira, março 19, 2025

Bodas em Tipasa


"Não é tão fácil a gente se tornar o que se é, reencontrar sua medida profunda." [p. 14]

"Não me agrada acreditar que a morte se abre para outra vida. Para mim é uma porta fechada." [p. 22]

"Não há verdade que não traga consigo seu amargor." [p. 28]

"Viver é, por certo, um puco o contrário de exprimir. É testemunhar três vezes: no silêncio, no ardor e na imobilidade." [p. 41]

"Mas que é a felicidade senão a simples concordância entre um ser e a existência que leva?" [p. 49-50]

"Há somente duas potências no mundo: a espada e o espírito." [p. 86]

"A ideia de que todo escritor escreve forçosamente sobre si mesmo e se pinta em seus livros é uma das puerilidades a nós legada pelo romantismo." [p. 114]

"Tive sempre a impressão de viver em alto-mar, ameaçado, no âmago de uma felicidade real." [p. 141]

sábado, fevereiro 15, 2025

Caro professor Germain



"... quero lhe dizer a dor que sinto como professor laico diante dos projetos ameaçadores urdidos contra nossa escola. Creio que, durante toda a minha carreira, respeitei o que há de mais sagrado na criança: o direito de buscar a sua verdade. Amei a todos vocês e creio ter feito tudo o que pude para não manifestar minhas ideias e assim impor um peso às jovens inteligências. Em se tratando de Deus, eu dizia que alguns creem nele; outros, não. E que na plenitude de seus direitos, cada um faz o que quer. Do mesmo modo, na questão das religiões, eu me limitava a indicar as que existem, às quais pertencem aqueles que assim queiram. Para dizer a verdade eu acrescentava que há pessoas que não praticam nenhuma. Sei muito bem que isso não agrada àqueles que queriam transformar os professores em caixeiros-viajantes da religião e, para ser mais preciso, da religião católica." [p. 46-47]

"Pesa suportar o mundo de hoje. São homens como o senhor que ajudam a tolerá-lo." [p. 49]

"... a miséria uma uma fortaleza sem ponte levadiça." [p. 63]

"A escola não servia apenas para a evasão da vida em família. Pelo menos na aulas do Sr. Bernard, ela  nutria neles uma fome mais essencial à criança do que ao adulto, que á a fome da descoberta. nas outras aulas, muitas coisas lhes eram ensinadas sem dúvida, mas um pouco do jeito como os gansos são empanturrados. Apresentavam-lhes um alimento prontinho, pedindo-lhes que tivessem a bondade de engoli-lo." [p. 63-64]

sexta-feira, fevereiro 14, 2025

Leituras 2025

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CARO PROFESSOR GERMAIN - Abert Camus
MARACANÃ: QUANDO A CIDADE ERA TERREIRO - Luiz Antonio Simas
A GUERRA NÃO TEM ROSTO DE MULHER - Svetlana Aleksiéitch
CRÔNICA DE UMA MORTE ANUNCIADA - Gabriel Garcia Marquez
BODAS EM TIPASA - Albert Camus
PAIS E FILHOS - Ivan Turguêniev
CONTOS DE TCHÉKHOV Vol. 2 - Tchékhov
BAMBINO A ROMA - Chico Buarque
MEMÓRIA DA CASA DOS MORTOS - Dostoiévski
ANOS DE CHUMBO E OUTROS CONTOS - Chico Buarque
DOSTOIÉVSKI - UM ESCRITOR EM SEU TEMPO - Joseph Frank
ESSA GENTE - Chico Buarque
MÉXICO - Érico Veríssimo
O PRESIDENTE NEGRO - Monteiro Lobato
O LIVRO DE JÓ - Bíblia

sábado, janeiro 25, 2025

Li em 2024



16     EICHMANN EM JERUSALÉM - Hannah Arendt
15     É ISTO UM HOMEM? - Primo Levi
14     GRANDE SERTÃO: VEREDAS - Guimarães Rosa
13     A FILHA DO REVERENDO - George Orwell
12     DOM CASMURRO - Machado de Assis
11     AFORISMOS - Oscar Wilde
10     DIÁRIO DE VIAGEM - Abert Camus
09     NA PIOR EM PARIS E LONDRES - George Orwell
08     O EFEITO ZICO - Marcos Eduardo Neves
07     O AVESSO DA PELE - Jeferson Tenório
06     O LOBO DA ESTEPE - Herman Hesse
05     OS SOFRIMENTOS DO JOVEM WERTHER - Goethe
04     COMO E POR QUE LER OS CLÁSSICOS - Ana Maria Machado
03     O CASO MEURSAULT - Kamel Daoud
02     CONTRA O SIONISMO - Breno Altman
01     FUTEBOL & GUERRA - Andy Douga