terça-feira, outubro 01, 2013

O Retro de Dorian Gray



"O mundo é grande e não faltam nele pessoas admiráveis." [p.23]

"... influenciar uma pessoa é transmitir-lhe a nossa própria alma. Ele já não pensa com os seus pensamentos naturais, nem arde com suas paixões naturais. As suas virtudes não são reais para ela. Os seus pecados, se é que existem pecados, são emprestados. Ela se converte em eco de uma música alheia, em um ator de um papel que não foi escrito para ela. A finalidade da vida é o desenvolvimento próprio. Realizar completamente a própria natureza, é o que devemos buscar. O mal é que, hoje em dia, as pessoas tem medo de si mesmas. Esqueceram-se do mais elevado de todos os deveres, o dever para consigo mesmas. São caritativas, naturalmente. Alimentam o faminto e vestem o andrajoso. Deixam, contudo, que suas almas morram de fome e andem nuas. O valor nos abandonou. Talvez nunca o tenhamos tido, realmente. O temor da sociedade, que é a base da moral; o temor de Deus que é o segredo da religião... são dois princípios que nos regem." [p. 27]

"Sempre! É uma palavra terrível. Estremeço sempre que a ouço. As mulheres gostam muito de usá-la. Estragam todo o idílio, querendo fazê-lo eterno. É uma palavra sem significado algum. A única diferença que há entre um capricho e uma paixão eterna é que o capricho dura um pouco mais." [p. 34]

"- Como é triste - murmurou Dorian, com olhos fixos ainda no seu retrato. - Como é triste! Tornar-me-ie velho, horrível, espantoso. Mas este retrato permancerá sempre jovem. Não será munca mais velho do que neste dia de junho... Se ocorresse o contrário! Se eu ficasse sempre jovem, e se este retrato envelhecesse! Por isso - por isso - eu daria tudo! Sim, não há nada no mundo que eu não desse! Daria até a minha própria alma!" [p.36]

"Gosto sempre de saber tudo sobre os meus novos amigos, e nada sobre os antigos." [p.47]

"A humanidade leva a si mesma demasiadamente a sério. É o pecado original do mundo. Se o homem das cavernas houvesse conhecido o riso, a História teria sido muito diferente." [p. 53]

"- O rubor assenta bem, duquesa - observou Lorde Henry.
 - Somente quando se trata de uma jovem - respondeu ela. - Mas, quando uma velha como eu erubesce, é muito mau sinal. Ah! Lorde Henry, desejaria que o senhor me ensinasse a rejuvenescer.
Ele refletiu por um momento.
- Pode lembrar-se de algum grande erro cometido nos seus primerios dias, duquesa? - perguntou, olhando-a por cima da mesa.
- Temo lembrar-me de um grande número - exclamou ela.
- Pois cometa-os de novo - disse ele, gravemente. - Para se voltar à mocidade, basta repetir as suas loucuras." [p. 54]

"Quando alguém está enamorado, começa sempre iludindo a si mesmo e acaba sempre iludindo os demais." [p 67]

"... são as personalidades, e não os princípios, que movem os séculos." [p. 71]

"- Basílio põe todo o seu encanto na sua obra. A consequência é que não guarda para a sua vida senão os seus preconceitos, seus pricípios e seu bom senso. Os únicos artistas que conheci que eram pessoalmente encantadores são muito maus artistas. Os bons artistas existem simplesmente naquilo que fazem tornando-se consequentemente desprovido de interesse em si mesmo. Um grande poeta, um verdadeiro grande poeta, é a menos poética das criaturas. Mas os poetas medíocres são verdadeiramente sedutores. Quanto pior rimam, mais sedutores parecem. O simples fato de haver publicado um livro de sonetos de segunda classe torna um homem completamente irresistível. Vivem a poesia que não pôde escrever. Os outros escrevem a poesia que não se atrevem a realizar." [p. 72]

" ... aquele jovem desconfiado e robusto, vulgar e de roupas surradas, que ia em companhia de uma moça tão graciosa e de ar tão distinto. Produzia o efeito de um simples jardineiro passeando com uma rosa." [p. 82]

"Toda vez que um homem faz uma coisa nitidamente estúpida é sempre pelos mais nobres motivos." [p. 92]

"... ser adorado é um aborrecimento. As mulheres nos tratam exatamente como a humanidade trata os seus deuses. Adoram-nos e estão sempre a importunar-nos com algum pedido." [p. 98]

"Há sempre qualquer coisa de ridículo nas emoções das pessoas que deixamos de amar." [p. 109]

"- E não pertence ao passado o que acontece nesse mesmo instante? As pessoas superficiais são as ùnicas que têm necessidade de anos para desembaraçar-se de uma emoção. Um homem dono de si mesmo pode dar fim a um desgosto com a mesma facilidade com que inventa um prazer. Não quero sentir-me à mercê das minhas emoções. Quero experimentá-las, gozá-las e dominá-las." [ p. 132]

"Uma pessoa nunca aparenta estar tão à vontade como quando tem de representar um papel." [p. 207]

" - É inteiramente monstruoso ... o costume que tem as pessoas hoje em dia  de falar mal dos outros às suas costas, afirmando coisas que são absoluta e completamente verdadeiras." [p. 211]

"Gosto do homens que têm um futuro e das mulheres que têm um passado." [p.213]

"A certeza seria fatal. É a incerteza que dá encanto aos fatos. Um nevoeiro torna as coisas maravilhosas." [p. 246] 

quinta-feira, agosto 29, 2013

Quando Nietzsche Chorou


"Ninguém deseja ajudar os outros, [...] pelo contrário, as pessoas apenas desejam dominar e aumentar o seu próprio poder." [p. 27]

"Transforma-te em quem és." [p. 78]

"Amo aquilo que nos torna mais do que somos!" [p. 79]

"- Se o seu paciente não sabe que está prestes a morrer, como poderá ele tomar uma decisão sobre como morrer? [...] Ele tem que decidir como encarar a morte. Conversar com os outros, dar conselhos, dizer as coisas que guardou para dizer antes da morte, desperdir-se, ou ficar sozinho, chorar, desafiar a morte, amaldiçoá-la, ficar-lhe grato." [p. 79]

"A esperança é o pior dos males, porque prolonga o tormento." [p. 79]

"Assim como os ossos, a carne, intestinos e vasos sanguíneos estão encerrados numa pele que torna a visão do homem suportável, também as agitações e paixões da alma  estão envolvidas pela vaidade; esta é a pele da alma." [p. 87]

"Tudo o que não me mata, fortalece-me." [p. 107]

"O problema dos auges é que estes conduzem à descida." [p. 161]

"Um predador na pele de animal de estimação." [p. 214]

"Viver de maneira segura é perigoso." [p. 233]

"... odeio quem me priva da solidão sem em troca, me oferecer verdadeiramente companhia." [p. 238]

"Aquele estranho livro russo sobre O Homem Subterrâneo continua a espantar-me. Dostoiévski diz que certas coisas não devem ser contadas, exceto aos amigos; outras não devem ser contadas nem aos amigos; finalmente, existem coisas que não se contam nem a si próprio." [p. 243]

"... a vida é uma centelha entre dois vácuos. Não é estranho como nos preocupamos com o segundo vácuo e jamais pensamos no primeiro?" [p 248]

"... é muito melhor ter coragem de mudar as convicções. O dever e a fidelidade são patranhas, cortinas para esconder o que está por trás. A auto-libertação significa um sagrado não, mesmo ao dever." [p. 263]

"Sei que o orvalho cai mais abundante quando a noite é mais silenciosa." [p. 265]

sábado, maio 11, 2013

Um Certo Henrique Bertaso


"... habitava um mundo ideal, mais preocupado com o Eterno do que com o Efêmero." [p. 98]

"Conheci um velho gaúcho que costumava dizer que o homem, quando envelhece, começa a pelear em retirada e com pouca munição, mas que o importante mesmo é pelear..." [p.109]

"Estivemos atrelados à mesma carroça, envolvidos nas mesmas viagens, cruzando os mesmos campos, enfrentando as mesmas borrascas e gozando das mesmas bonanças." [p. 112]

"Lembro-me de que um certo amigo meu costumava dizer que a vida é uma viagem e o mundo um vagão. O fim de todos os passageiros é chegar à estação da Morte. Durante a viagem, - isto é: durante a vida – uns preferem jogar, outros comer, outros rezar e outros ainda amar ou simplesmente conversar. Cada qual escolhe a sua maneira de fazer a travessia. Levados pelo mesmo vagão, todos hão de desembarcar, na misteriosa estação. Só há diferença na maneira de matar o tempo da jornada." [p. 115]

"Sim, a verdade e o ideal são às vezes moedas falsas de circulação ilusória. Valem nos poemas, nos discursos, nas frases declamatórias, nos livros de orações e nas cartas de amor. A vida quase sempre se encarrega de as desvalorizar." [p. 120]

"Para certos críticos parece só ter valor os escafandrismos psicológicos do tipo de Proust , Joyce e Woolf. Para muitos deles só é profundo o que é obscuro e difícil. Há um tipo de crítico que vê mérito unicamente no que é mórbido. Acho que é preciso um pouco de tudo para fazer um mundo, e o mesmo se pode dizer do romance." [p. 178]

"Devo dizer que não me levo muito a sério porque, mais do que ninguém, tenho uma consciência muito clara de minhas deficiências e de minha incomensurável ignorância." [p. 180]

"Numa democracia – ilustrava ele – a opinião de dois carreteiros que mal sabem assinar o nome prevalece sobre a de Einstein." [p. 189]