quinta-feira, janeiro 10, 2019

DONA FLOR E SEUS DOIS MARIDOS



“Assim sucedera certa ocasião, todas as comadres o sabiam e só dona Norma tinha o compromisso de guardar segredo. No entanto, não fosse ela romper a jura, incapaz de tão longa mudez, mais de vinte dias, dona Flor nunca viria a tomar conhecimento do gesto. As outras trancaram as bocas, quem se incomoda em transmitir alvissareira novas? Para isso não há urgência nem sofreguidão, ninguém sai correndo rua a fora. Só para as más notícias. Para levá-las, sobram os arautos, não falta quem se dê aos maiores incômodos, quem largue trabalho, interrompa descanso, quem se sacrifique. Dar uma notícia ruim, coisa mais emocionante!"  

“Um frasco de veneno, cascavel enfeitada com penas de pássaros”. 

“Sou um pecador antigo, venho do Velho Testamento e vou direto para o Apocalipse.” 

“Por fora água parada, por dentro uma fogueira acesa.” 

“...saia às pressas, utilizando apenas o pequeno tempo de uma mentira.”

“Se o primeiro casamento de dona Flor realizou-se às carreiras, em acanhada e restrita cerimônia, no segundo tudo aconteceu como devido, reinando ordem e certo brilho. O primeiro não teve noivado, indo direto do namoro (impudico) ao matrimônio, passando antes pela cama (antes da hora). Celebrou-se naquelas desagradáveis condições de urgência e embaraço resultantes da necessidade de tapar com o aval do Estado e da Igreja os três-viténs da moça comidos pelo namorado, antecipadamente, restaurando-se assim, se não o cabaço, pelo menos o bom nome da família.” 

“Aliás, quanto a esse dinheiro tomou o doutor outras providências.  Um absurdo, um convite aos ladrões tê-lo em casa, junto às válvulas do rádio ou metido em velha caixa vazia de sapato ou por detrás do espelho da penteadeira ou sob o colchão, hábito de cigano, costume de gentinha. Sobretudo agora, quando esse dinheiro incólume avolumava-se mensalmente em máquina respeitável. Doutor Teodoro foi com dona Flor à Caixa Econômica e ali abriu uma caderneta em nome pessoal da esposa, onde ela passou a depositar sua economias.
    - Assim lhe rende juros, minha querida, três por cento, sempre é alguma coisa. E, na Caixa, seu dinheiro está garantido, sem o perigo dos ladrões.”

“- De que tem necessidade? De pressa ou de solução?” 

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