"Não é só Kazuki, mas todos ali aparentavam estar em Roma de passagem, nenhum se dava ao trabalho de aprender italiano. Eu gostaria de conhecer o destino do Sam, do Jim, do Roy, do Teddy, do Dan, do Archie, teriam todos voltados para a América? Teriam feito a Guerra do Vietnã? Quem morreu no Vietnã? Quem virou hippie? Quem tomou heroína? Quem morreu de Aids? Fizeram fortuna no Vale do Silício? Em quem votaram ultimamente? Mas disso nunca vou saber..." [p. 41/42]
"... ninguém pode ser inocente por completo o tempo inteiro. Eu, por exemplo, apesar da formação cristã, sou de má índole, vivo tendo ideias perversas, não raro desejo mal ao próximo." [p. 54]
"Muito se tem escrito a respeito de artistas geniais que em sua vida pessoal se revelaram uns crápulas. Eu também sei distinguir o criador da criatura e guardo uma admiração intata por obras de autores com quem jamais me sentaria." [p. 58]
"Minha irmã mais velha morreu sem saber que eu enfiava a cara entre suas saias e vestidos, assim que ela saia para as aulas de arte. Ela escondia o violão atrás dos cabides no fundo do guarda-roupa, e só bem mais tarde eu compreenderia que todo músico tem um ciúme do seu instrumento. Ciúme ainda mais justificado quando se trata de um violão, instrumento que você põe no colo, apoia na coxa, abraça contra o peito e tange com a ponta dos dedos." [p. 79]
"... meu papel de parede era a imitação de um muro de tijolos. Devido à umidade, o papel estava soltando nas emendas, deixando entrever por baixo uma parede de tijolos verdadeiros. Meu sonhado livro de memórias poderia ser bem isso, um papel de parede reproduzindo o que ele ao mesmo tempo esconde." [p. 81]
"Achei melhor largar mão da ideia de um diário e deixar que o esquecimento fizesse o seu trabalho. No futuro a imaginação cobriria as lacunas da memória e os acontecimentos reais se revezariam com o que poderia ter acontecido." [p. 84]
